16.4.15

Causa justa

O sujeito vinha com seu carro pela linha vermelha. Era uma Fiat azul, velha e bastante prejudicada, mas até que andava direitinho. Na altura do Cajú jogou uma guimba de cigarro pela janela. Duas viaturas da polícia que vinham logo atrás aceleraram, ligaram as sirenes e os policiais colocaram suas armas enormes para fora das viaturas. Uma delas foi atravessada na frente do carro do fumante e a outra atrás. Os policiais desceram com suas armas.
- Sai do carro vagabundo. Disse o policial metendo a arma pela janela do veículo.
- Eu não fiz nada. Retrucou o motorista já com as mãos para cima.
- Cala a boca, filho da puta, gritou um segundo PM já abrindo a porta do carro e arrastando o sujeito pelos cabelos.
O homem foi empurrado contra a lateral do seu próprio carro, de pé, e teve a cabeça empurrada contra a lataria do teto.
- Documentos. Carteira de habilitação, identidade, CPF, certificado de reservista... Eu quero tudo, safado.
- Mas seu guarda, eu não fiz nada. Retrucou o cidadão.
- Como não, seu cafajeste? Nós flagramos você sujando a rua. Tá pensando que isso aqui é bagunça, seu marginal?
- Mas isso não é crime. Eu tenho meus direitos...
- Teje preso. Vociferou o meganha visivelmente irritado – Isso é desacato à autoridade.
O fumante foi jogado na caçapa do carro da polícia antes mesmo que pudesse mostrar qualquer documento, e levado para a delegacia. A Fiat velha ficou lá, coitada, na linha vermelha, altura do Cajú, abandonada a sua sorte.


- Quem é esse verme? Perguntou o delegado ao policial enquanto olhava para o fumante com cara de nojo.
- Tava sujando a rua, dotô. Jogou uma guimba de cigarro pela janela. Respondeu o investigador responsável pelo caso.
- Que safado. Já deram umas porradas nele?
- Ainda não. Só os meganhas deram uns tapinhas. E é melhor espera. Algum vândalo filmou a abordagem dele e publicou na internet. Tá dando o maior IBOPE. É bom não fazer nada agora, daqui a pouco a imprensa está aqui.
Quando alguns jornalistas minguados apareceram na delegacia para saber o que aconteceu, pautados pelo Youtube, foram direto ao delegado, que explicou que o cidadão em questão foi flagrado jogando lixo tóxico na rua e, quando flagrado pela força policial, resistiu à prisão e desacatou as autoridades.
Imediatamente os jornalistas reproduziram a versão do delegado e publicaram matérias, fazendo link ao vivo, elogiando os esforços da polícia para manter a cidade limpa e protegida de vândalos.
E o fumante ficou lá, preso, algemado e sentado num banco, num corredor de passagem da delegacia.
- Olha o safado aí... Exclamavam os policiais sempre que passavam por ele.
Lá pelas tantas da noite chegou à delegacia, acompanhado por câmeras e equipes de filmagem, o Deputado chefe da comissão de direitos humanos da Alerj.
O fumante permanecia algemado, sentado no banco, e agora tinha o corpo meio entortado para a esquerda e uma expressão de fome no semblante.
Antes de qualquer outra ação o Deputado se reuniu com o delegado em seu gabinete, com as portas trancadas.
- E aí, Sandoval, como está a coisa? Perguntou o Deputado.
- Até agora nada demais, Serginho. O cara é um bedamerda que jogou uma guimba pela janela e tomou uma dura dos samangos. Mas ninguém bateu no sujeito.
- E porque não?
- Sei lá. Falta de tempo, talvez. O pessoal anda meio ocupado com as tarefas da delegacia.
- Puta incompetência, Sandoval. Essa tua equipe é uma porcaria. O vídeo tá bombando no youtube e você não me dá nada? Nem umas porradinhas? Você quer me foder, Sandoval? Tu acha que eu vou fazer IBOPE dizendo que esse merda foi bem tratado?
- Não seja por isso, disse o delegado enquanto pegava o telefone. Vou te dar um presentão, quer ver?  - Ô Agnaldo, disse o delegado ao telefone, tá vendo esse sujeito algemado no banquinho? Pega uns dois samangos dos bons e dá uma sessão de porradas nele. Não precisa quebrar nada, só faz sangrar um pouco pra fazer umas imagens boas.
Não deu cinco minutos, enquanto o delegado adoçava o cafezinho que pretendia oferecer ao Deputado, começaram a ecoar os gritos do fumante pela delegacia inteira.
- Maravilha, Sandoval. Vou ficar te devendo essa. Você é um gênio. Agradeceu o Deputado.
Os soldados batiam com cassetetes no fumante algemado enquanto a equipe do deputado registrava as cenas através de uma divisória escurecida, sem uma visão clara da ação. Os gritos eram perfeitamente audíveis, mas as imagens só mostravam silhuetas.
A equipe filmou ao vivo a entrada triunfal do Deputado, empurrando os soldados e se agarrando à vítima, usando seu próprio corpo como escudo, enquanto o delegado dava ordens para suspender o espancamento.
- Covardes. Vocês são covardes. Gritava o Deputado para os policiais e depois voltava para as câmeras.
- Isso é uma grave violação dos direitos humanos. Vou convocar o Governador à minha comissão. Ele vai ter que se explicar. O povo merece uma explicação.
Abraçado à vítima, salva do espancamento, o Deputado passou a dar entrevistas para os vários veículos de comunicação que chegavam à delegacia. Sempre fazendo uma defesa apaixonada dos direitos humanos.


Quando recebeu a notícia do ocorrido o Governador deu um soco tão forte na mesa que quebrou o tampo de vidro.
- Filho de uma puta. Gritou. Agora esse escroto vai me extorquir até a alma antes de parar com essa palhaçada.
Padilha, o chefe de gabinete ponderou que tal problema seria uma bobagem e garantiu que, caso o governo contemplasse todos os envolvidos, o furdunço morreria mais rápido do que surgiu. “E o Serginho é parceiro”, afirmava assessor, “Ele só está fazendo o marketing dele, mas chega junto quando necessário”.
- Chega junto é o cacete – esbravejou o Governador – isso é um filho da puta. Mas a culpa é do nosso pessoal na justiça eleitoral. A gente gasta uma grana absurda pra garantir nosso espaço e eles ainda deixam esses pulhas se elegerem.
- Fica tranquilo, Governador – disse Padilha. Está tudo sob controle.


Na redação do jornal, Tatiana escarafunchava sites de fofocas do mundo procurando alguma coisa que servisse para desqualificar o Papa. O sumo pontífice havia assumido algumas posições conservadoras em entrevistas recentes e aquilo era inaceitável para linha editorial do seu veículo. Precisava detona-lo, mas teve que suspender temporariamente a pesquisa, que lhe proporcionava tanto prazer, e correr para o palácio do governo.
- É pra detonar quem?  Perguntou ao editor chefe quando já saía às pressas do recinto.
- O Governador. Respondeu o outro. Pega os dados que conseguir e espanca o Governador.
Na versão oficial da imprensa, um drogado teria sido agredido covardemente pela polícia e salvo pelo deputado dos direitos humanos. Várias instituições ligadas à causa, ONGs de todo o país, foram convocadas para dar entrevistas agradecendo a intervenção parlamentar e estraçalhando com a reputação do governador.
Fotografado e filmado com o rosto inchado de tantas pancadas, o fumante foi apenas citado na matéria focada no conflito entre autoridades, umas fazendo o papel de mocinhos, outras o de bandidos.
Nas fotos de capa do dia seguinte, Deputado e Governador defendiam seus pontos de vistas e ongueiros agora se dividiam na defesa de um e outro.
De agressão, truculência policial e abuso de autoridade a coisa descambou para a indústria das drogas e daí para o tráfico de armas. Começaram a envolver fronteiras na discussão e até o papel da Polícia Federal.
O ministro da Justiça entrou no circuito dando uma entrevista. Falou tanta asneira que os jornalistas passaram algumas horas em conferência, se perguntando se publicavam ou não as declarações do Ministro. Publicaram.
A presidência da república, sentindo-se provocada, instituiu uma comissão para apurar os fatos e, sendo o caso, punir rigorosamente todos os envolvidos com o tráfico de drogas e armas em nível nacional.
A coisa ficou tão grave que decidiram fazer uma milionária campanha, em todo o território nacional, usando todos os veículos possíveis, rádio, televisão, cartazes e jornais de grande e pequeno porte, alertando o povo para a necessidade de proteger as nossas crianças das ameaças representadas por drogas, álcool e pedofilia, além de estabelecer a necessidade urgente de uma reforma política para acabar com todos os males que afligem a nação.
A campanha foi um sucesso. Tanto que nunca mais se tocou no assunto do fumante, perturbador da paz e da ordem, que continua até hoje na carceragem da delegacia de São Cristóvão aguardando a instauração do devido processo legal e posterior julgamento.

Os especialistas avaliam que ele pode acabar em Bangu 1 cumprindo prisão perpétua.

6.3.14

A GREVE

Março - Os garis do Rio de janeiro resolveram cruzar os braços nas vésperas do carnaval. Acostumados a trabalhar domingos e feriados sem receber horas extras, ao contrário do que reza a legislação trabalhista, os homens e mulheres que mantêm a cidade limpa se cansaram da exploração e do regime semiescravo imposto pela Prefeitura da segunda maior cidade do país. Por um salário muito próximo ao mínimo estabelecido por lei, até cadáveres o pessoal da limpeza era obrigado a carregar nos caminhões de lixo, por ordem de bandidos nas centenas favelas que monopolizam o território carioca. Sentiam-se burlando as estatísticas de segurança pública; Enganando a população. E tudo por pouco mais que o salário mínimo.
Além do salário baixo havia também o problema dos maus tratos, da baixa estima e da quase nenhuma motivação para o trabalho. Os agentes do governo que mandavam na empresa pública de lixo agiam como feitores, sem respeitar ninguém, agredindo os trabalhadores de forma verbal e às vezes até fisicamente. Não havia mais quem pudesse suportar tantos desmandos e tanta arrogância por parte dos donos do poder. Em outras áreas o governo também agia como inimigo declarado dos servidores, mas em nenhuma delas a relação era tão desabonadora e acintosa quanto na Comlurb. Para igualar com as relações escravocratas de tempos idos faltava apenas o castigo físico, o açoite. E havia quem garantisse que faltava muito pouco para chegar a isso.
- Quem muito se abaixa, expões os fundilhos – Costumava dizer Roberval, um dos garis mais antigos da companhia e também um dos mais revoltados.
A situação ficou caótica. Turistas desavisados tropeçavam em montoeiras de lixos pelas ruas, tudo ficou mergulhado na imundice, a cidade fedia. Os foliões formavam blocos e atravessam avenidas apinhadas de detritos e entulhavam-nas mais ainda, com seus próprios detritos, seu próprio lixo.
Aliado incondicional do governo, o principal jornal da cidade, subvencionado, estampou manchete garrafal imputando aos lixeiros o título de “Bloco dos sujos”. O Prefeito em entrevista ofendeu, agrediu os garis, chamando-os de bandidos. Ao contrário do que se previa, no entanto, a população, literalmente conhecedora do caráter do Prefeito, aderiu a greve e saiu em favor dos garis. Nas redes sociais a adesão foi colossal, esplendorosa, massiva. Assim como ocorrera com os bombeiros em tempos anteriores, a sociedade abraçou os profissionais de limpeza, solidarizando-se com suas agonias e limitações, e passou a questionar o alcaide.
Na verdade já fazia muito tempo que a cidade agonizava sob a batuta daquele Prefeito fútil, inapto e incapaz. Todas as urgências da cidade vinham sendo distorcidas e a administração sendo transformadas em objeto de lucro para poucos. Havia a questão dos ônibus ruins, caros, lotados e protegidos pela administração pública em detrimento do cidadão. Havia a questão da violência desenfreada, da falta de escolas, da remoção de barracos das famílias pobres ao mesmo tempo em que os tesouros municipais eram direcionados aos bolsos de poucos ricos. Havia até a questão, divulgada recentemente, das contas secretas do pai do Prefeito em paraíso fiscal, abastecidas com dinheiro público, segundo alguns. O fato é que a situação da cidade estava tão caótica e a sociedade tão arrependida de ter entregado o poder nas mãos de pessoas tão desqualificadas, que a coisa explodiu. Tudo de uma vez só.
Quando a Prefeitura tentou arquitetar uma farsa, comprando o sindicato da categoria e alguns membros do judiciário para obrigar o fim da greve, as pessoas se revoltaram completamente. Aos garis reunidos em protesto em frente à sede da Prefeitura, juntaram-se os estudantes. Logo depois vieram os professores, após decidir em assembleia super concorrida uma greve em solidariedade ao pessoal da limpeza. Os trabalhadores em saneamento - água e esgoto – foram os próximos na adesão e trouxeram também sua tropa para as ruas, aos gritos de Abaixo á ditadura.
A imprensa convencional era cada vez mais agressiva e entrevistava especialistas de todas as áreas possíveis, sempre em consonância com as posições do Governo e atacando os trabalhadores. Os repórteres profissionais já não conseguiam esconder o constrangimento, mas os apresentadores de tele jornais, geralmente recrutados entre os membros menos talentosos das famílias poderosas, muito mais bem pagos que os profissionais comuns, marretavam os grevistas. Alguns chegavam a dar chiliques inflamados diante das câmeras, como se os grevistas fossem empregados seus, particulares, e não servidores públicos concursados.
Nas redes sociais, no entanto, os governistas perdiam a batalha fragorosamente. Todas as chacotas possíveis eram feitas usando o nome do Prefeito e de seus principais asseclas, tanto na administração quanto na mídia. O tag #oPrefeitoDoRioFede assumiu rapidamente o primeiro lugar na lista dos temas mais postados no Twitter, e no Face Book mais de noventa por cento das postagens eram extremamente críticas ao Prefeito.
O Governador do Estado se manifestou, em defesa de seu pupilo, o alcaide, mas foi inapelavelmente abatido durante o discurso por vaias intermináveis. A multidão o cercava cantando palavras de ordem que ridicularizavam ambas as administrações: Prefeitura e Estado.
- Culpem alguém – berrava o governador para seus subordinados, já refugiado em no gabinete – Culpem a oposição. Culpem os radicais, os black blocs, os estudantes. Culpem alguém, seus incompetentes! Mandem a polícia pra lá. Quero todos espancados. Usem munição letal se preciso, mas acabem com essa manifestação. Eu odeio essa gente! Eu odeio povo!
Um assessor ligou para a Globo na mesma hora e deu a ordem para culpar a oposição.
Abril – O Mês começou com péssimas notícias para o Prefeito. Os trabalhadores da rede ferroviária fizeram uma assembleia e resolveram aderir à causa dos garis, parados à quase 30 dias. A cidade transbordava de lixo.
Maio – Amparados pela legalidade de sua data base, os trabalhadores em saneamento rejeitaram a proposta de acordo coletivo feita pelo governo, com cláusulas que previam a demissão sumária de 1% dos trabalhadores, mesmo os concursados, e partiram para a greve, se juntando de vez aos garis, aos ferroviários, aos estudantes e aos manifestantes na porta da Prefeitura. Mesmo diante das ameaças terríveis pautadas pelo Governador, os trabalhadores saíram em passeata cantando palavras de ordem contra a ditadura. Enfrentaram policiais truculentos e agentes infiltrados no movimento sem arredar um milímetro de suas posições.
Junho – Quando faltava uma semana para abertura da Copa, os rodoviários aderiram ao movimento. Acusados de ingratidão pelo Prefeito, que alegava ter construído corredores exclusivos para ônibus, respondiam na bucha, alegando que as rotas eram para beneficiar os donos das empresas de ônibus e não os trabalhadores e muito menos a população.
No dia da abertura da Copa o pessoal da saúde fez uma assembleia conjunta. Médicos, enfermeiros, maqueiros, todos os profissionais atuantes na área da saúde resolveram parar. Não por dinheiro, mas em protesto pela péssima acolhida que os governantes dão ao setor. Saúde vale mais que futebol – gritavam pelas ruas, em marcha, da Candelária até a Sede da Prefeitura, na Cidade Nova, ocupando quatro pistas da Av. Presidente Vargas com uma caminhada de um quilômetro de extensão. Juntaram-se aos manifestantes.
A imprensa do mundo inteiro estava no Rio de janeiro para cobrir a Copa, as manifestações, no entanto, chamavam mais a atenção. Sem transporte público as pessoas não podiam ir aos jogos. O Maracanã estava vazio, mas a rua em frente à Prefeitura estava lotada. Mais de um milhão de pessoas entoando cânticos de protesto. Os líderes do movimento, vários, de várias categorias e organizações diferentes, pediram aos manifestantes para darem-se as mãos.
- Ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil, gritavam os líderes ao microfone. Em uníssono.
- Ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil, respondia a multidão.
- Verás que um filho teu não foge à luta – Gritavam os líderes. A população respondia à altura, no mesmo diapasão.
No exato momento do pontapé inicial da Copa do mundo de futebol 2014 a multidão de mais de um milhão de pessoas acampada em frente à prefeitura do Rio de janeiro iniciou a oração do pai nosso, em voz alta, todos de uma vez, em honra ao Papa que mandou os jovens lutarem por seus direitos. Até os policiais que empurravam alguns manifestantes, tentando se utilizar da ação de revide para dar início à novas agressões, pararam. A imprensa começou a divulgar links ao vivo da multidão beata, rezando. Primeiro a TV francesa, depois a inglesa, a canadense e em pouco tempo o mundo inteiro reproduzia a romaria política em frente à prefeitura do Rio. Homens e mulheres. Pessoas de todas as raças, todas as idades e todas as crenças, inclusive os sem crenças, entoando o mesmo canto. O católico, o evangélico, o judeu e o gentio, o agnóstico e o ateu, todos adotando a reza como instrumento de resistência política pacífica, construindo um momento único na história da humanidade. E se somaram àquele, outros cantos, outras rezas, outras orações, de todas as categorias e religiões. O povo unido em comunhão para evocar para si o direito de julgar os seus algozes, de bani-los, de expulsa-los da vida pública como Jesus fizera com os vendilhões do templo.
O acampamento em frente à sede do poder executivo municipal se estendeu por mais de 30 dias, acumulando cada vez mais gente e ocupando cada vez mais espaço. A cidade ficou paralisada. Pessoas vinham a pé de todos os lados somar forças com aqueles que exigiam dignidade para todos. Em pouco tempo eram dois, três, quatro milhões de pessoas exigindo justiça e respeito para com a cidade, o Estado e sua população. Os estádios vazios e as ruas cheias. O povo roubando a cena da Copa do mundo e se fazendo presente e gritando aos quatro ventos sua insatisfação com os governantes.
Diante das arquibancadas vazias os jogadores do Brasil, entendendo o recado da população, extraíram cada newton da força disponível em suas almas e, com lágrimas nos olhos, conquistaram o campeonato internacional. Eles próprios decidiram dedicar a vitória à luta do povo brasileiro. A imprensa registrou o fato e o reproduziu mundo à fora, muitas vezes.
Outubro - Ninguém sabe direito o porque, mas o fato é que em outubro, apesar de todos os  candidatos se posicionarem como solidários ou responsáveis diretos pelo título, nenhum governante foi reeleito, nem no Rio de janeiro, nem em qualquer outro Estado ou município Brasileiro. Todos os parlamentares de situação, em todas as cidades do Brasil, perderam seus cargos e pouquíssimos foram os reeleitos pela oposição. Alguns hierofantes políticos interpretaram aquilo como consequência direta da revolta popular contra os gastos abusivos para a Copa do mundo, outros, consideraram o fenômeno uma mera coincidência. O fato é que nenhum dos governantes que acionaram forças militares e infiltradas para agredir o povo foi reeleito. Nenhum deles. Nem naquele, nem em outros pleitos. Nunca mais.

Cada um dos cidadãos presentes à manifestação, a maior em quantidade e duração de todos os tempos em terras brasileiras, ficou convencido de que sua participação, sua reza e sua disposição de luta foram fundamentais para a coroação daquele momento. E foi mesmo. O Brasil e o povo brasileiro saíram muito melhor de tudo aquilo. Mais fortes, mais vivos, mais livres e profundamente mais respeitados. Para todo o sempre.

25.7.13

Sensações

O toque da pele na pele sempre gera sensações. Ondas de calor, expectativa de gozo, desejo... Libido alvoroçada. Explosão.
Mas tudo precisa ser muito discreto. Pessoas, mesmo com toda a idade da terra, continuam sendo só pessoas. Mesmo um leve toque pode soar agressivo no universo tosco dominado por seres obtusos, desacostumados a viver suas próprias emoções e enquadrados no padrão de comportamento estabelecido por imposições retrógradas que se acumulavam com o decorrer dos anos.
Há quem creia num Deus assexuado que vigia de perto cada uma de suas criaturas com o objetivo de proibir, a todas elas, os prazeres mais elementares. Um Deus tolo, que pune os instintos e incita as guerras. Um ser feito de sangue, lágrimas, angústias e frustrações.

Da janela de casa Fábio pensava nisso, pouco antes de sair, e fixava o olhar na rua, nas luzes que começavam a estourar por cima da cidade e nos espaços que lhe escapavam... Escuros, baldios, quase inexpugnáveis. Espaços aparentemente criados para pessoas especiais. Para aqueles que conseguem ver na ausência da luz, na mais completa escuridão.
A memória da boca ainda guardava o sabor do êxtase anterior e as pernas já estavam pelas calçadas procurando mais. Seguiam firmes, passo a passo, enquanto o nariz buscava os cheiros da noite e das pessoas, homens e mulheres temporariamente livres, à disposição. Gente boa e saborosa ondulando corpos, aproveitando o espaço raro entre uma luz e outra, entre uma sombra e outra, sempre exposta a um turbilhão de delírios.
Na esquina da Lavradio os olhos lânguidos de Vânia, que já acorrentavam Mônica a uma certa distância, se misturam, cruzaram com os dele, se entrelaçaram, quase gozaram assim. Beijos lúbricos, abraços encaixados saudaram os desejos, roçaram as carnes e seguiram juntos por entre as luzes e sombras. Agarrados, os três, vagueando. Bocas, corpos, peitos, nádegas, salivas, sexos. Todos apalpando aquele começo de madrugada.
Afagos e mais, muito mais, na porta do Odisseia. Olívia, Lana, Rodrigo e Zé. Sacros delírios amotinados em frente ao templo irradiando ao infinito sofreguidão e umidade. Tudo de uma vez, juntos. Um, depois três, mais quatro, os sete na cara de Homero, a partir do asfalto e das calçadas da Mem de Sá. Ulisses vários e muitas Penélopes enfrentando mares bravios em busca de amor e gozo. Sereias e monstros marinhos, ciclopes canibais, de tons e texturas às vezes distintas e às vezes assemelhadas, essencialmente misturados.
E o canto dos olhos de alguns poucos infelizes procurando sentidos impossíveis de existir no universo incalculável.
Cerveja. O sabor amargo brindado como homenagem muda às estrelas. Boca, língua, garganta, estômago e cérebro. Consciência de mente expandida. Enorme. Fantástica. E vodka, refresco de vodka, cigarros e luzes. Muito mais luzes nos olhos, na noite, nos braços, nos ventres, nos rostos. O toque por cima do toque. O gesto, o paladar. E as sombras fugindo das luzes mansas, breves e devoradoras. As luzes comendo sombras, sorvendo, fecundando, aliciando, tudo em meio à escuridão.
Já mais tarde, muito mais, a devassidão das cores explodia no caleidoscópio de corpos unos, adentrados, melados, do avesso. Uma quase sombra ainda resistia aos raios das primeiras horas e o gozo - o mais pleno dos gozos - já descansava sua imensidão alojado confortavelmente em todos os orifícios de cada um dos corpos largados pelo quarto.
Sete pequenas mortes e sete ressurreições. Sete sorrisos serenos se engalfinhando e dormindo. Sete brilhos radiantes. Sete alucinações.

....
 Vânia era a alucinação. Subindo pelas paredes prazeres ternos e doídos. Noite afoita servindo e servindo-se de tudo. Linda, lúdica, aberta, escancarada aos olhos, bocas, dedos, línguas e ações. Brincadeira de invadir, tocar, sorver, experimentar e seduzir. Explorar. Escarrapachada, corpo todo espalhado pelo chão do quarto exalando cheiro de flor, de fenda, de gruta, de florescência molhada por um orvalho próprio, íntimo e absoluto. Um tipo de aroma que invade a narina e inebria, condenando à vida. Vânia assim, dormida, e as mãos amigas ainda pregadas no corpo. Mão de Mônica no dorso, outras escondidas, de Lana e Zé, cobertas pelas virilhas e todas as outras tocando, marcando, tentando durante o sono agarrar sensações.
E Vânia assim, estendida, mexendo, revirando, arrastando o corpo adormecido, suavemente, e se expondo ao sonho. As curvas realçando, bunda nua, peito nu, sexo liso, depilado, banindo a angústia para plagas distantes. E aquele cheiro forte, denso, palpável, visível, saboroso. Do amor misturado, repetido, deleitado. Capaz de apagar todas as dores do mundo, da noite, de Vânia.
E a dor advinha do tapa, do aperto, dos dentes cravados nos seios, nos lábios e lábios da rosa. Das rédeas cabelo, do dorso cangalha, da boca de dedos, botões, cogumelos e belos segredos gritados, berrados, gemidos. Além do sussurro, dos gritos, das juras ali murmuradas. Dos apelos e do brinde meloso na boca ou por dentro do corpo, na flor, no botão ou por fora, no ventre. Do hálito quente, da voz perfumada. Do fel. Do prazer. Ela extasiada.

 ...
Zé com a mão comprimida no corpo da moça, dormindo, os dedos roçando de leve na rosa. Na noite viajou, foi dono de todo o folguedo. Dançou, gargalhou, beijou todas as bocas e ali, travesseiro de bunda bonita, ele só dormitava.
E pensava na festa. E buscava com o dedo, instintivo, entre as bandas, a fresta, o sagrado orifício, o sabor dos prazeres de todos na ponta do dedo enquanto acordava.
Na noite se deu e tomou para si o que o corpo queria. E foi homem, foi macho, foi vício, foi fêmea, menino, menina e foi tudo, sorveu em detalhes os sumos, os sabores do mundo. Bebeu os amores dos outros em cada tulipa após os desejos e deu seu amor. Deixou transbordar sua essência em bocas e seios, em flores, botões, em peitos, em cálices soberbos, serviu-a em taças, em copos, colheres e beijos, de todas as formas. E Vânia se abria, agora, dormindo, e o dedo encaixava. Na bela manhã e nos braços de um raio de sol que vazava, o Zé em carícias pensou que era a noite que tinha voltado. Ou nem acabado.


....
E Lana quase dormia... De bruços. O quê? Quem? Quando? Onde? Por quê? Tudo rodopiava solto no cérebro durante a madorna. A angústia, a matéria, o tema, a foto da capa, o suor escorrendo ao redor do pescoço, o corpo postado de quatro, a bruta e perfeita invasão. Aturdida, cobriu durante o último sono a madrugada toda, em detalhes, com a intenção de olhos e instintos atentos, lembrou e esqueceu coisas, se deliciou e pediu perdão. E se perdoou. Mais que perdoou, amou. Voou pela noite, vagou entre as camas e as rodas, comeu as maçãs e fumou os charutos; bebeu no gargalo, chorou de emoção e fartura. Cantou, recitou poesia, malhou o sistema e as formas, as linhas, fontes, conteúdos. Amou quase tudo e expôs, ofertou, concedeu o objeto do amor.
Lana se fez e desfez várias vezes. Beijou todas as bocas, variou a paixão do instante em toques. Sussurrou pelo gozo, gemeu pela tese e rugiu pelo mundo. Outorgou ao prazer uma causa e dedicou seu êxtase à humanidade. Homens, mulheres, crianças, velhos. Gordos e magros. Negros, brancos e asiáticos, jorrou por amor ao planeta. Filosoficamente, poeticamente, hedonisticamente.

...
Rodrigo dormiu e acordou soldado. Recebeu a alvorada postado e exultante. Usufruiu de tudo e de todas, não se dando a ninguém. Comeu, bebeu, sorveu, e provou cada anca exposta ao sabor do delírio. As moças, as bocas, as tetas, as nádegas, tudo por amor à Pátria e à noite. Por amor ao cheiro e ao sabor. Por amor à farra.  Acariciou, apalpou, apertou, beijou e lambeu toda tez feminina que esteve ao alcance das mãos e da língua. Despertou lúcido, pronto para uma nova refrega. Na boca o gosto da boca de Lana, dos peitos de Vânia, da flor de Olívia e o sumo espalhado no rosto, travando nos olhos, impregnando o nariz e se espalhando pelo céu da boca. E as cores, e os sons, e os sopros da guerra, de cada batalha, voando vaidosos diante dos olhos, à flor da memória.

...
A luz da manhã não poupou a ressaca de Mônica. Preguiçosa, despertou num gemido com a mão despejada nas costas de Vânia. Sentindo, tocando, acariciando, recolhendo a memória da noite com ponta dos dedos na pele da amiga. Pensava no quanto a amante se deu e recebeu amores e no quanto ofereceu a ela, Mônica, prazeres tão inexplicáveis. Lágrimas e carinhos gerados por paixão avulsa, sem lastro, sem âncora, sem concepção. Um tipo de paixão que não se abandona e nem se permite que viva sujeita aos horrores de um cárcere. Mônica experimentou o ápice do desejo, uma fruta úmida e madura que sacia sede e fome numa mesma mordida.
Ajeitou-se para abraçar o corpo nu da amiga e permaneceu ali, calada, quase adormecida, suavemente saciada e feliz pelo instante, pela descoberta, pela sagração da vida e pelo festival de possibilidades estampadas no horizonte. Fez questão de nem abrir os olhos e atravessou a manhã curtindo variadas sensações.

 ...
Olívia trazia nos olhos a marca de Vênus. Tarô, influência de Aquário com alma de Peixes e números fosforescentes fervilhando nos olhos. Gurus, sacerdotes, templários, druidas, gnomos e seres alados como referência de vida. Gozo, como obsessão.
Na noite cumpriu rituais de luxúria. Sagrados, ocultos, divinos, prazer dedicado aos seres supremos. Jorrou pelas pernas os sumos dos deuses e amou quantas vezes lhe foi permitido.
Rompeu as fronteiras da carne e foi longe, buscou toda forma de luz no escuro dos corpos, em cada espaço, em cada abertura, em cada sentido, em cada instrumento ao alcance da mão.
A sacerdotisa extraindo os fluidos de seus seguidores. Sorvendo, pulsando, fazendo o sangue correr pelas veias de moços e damas. Sorrindo e se dando. Servindo e comendo manjares e polpas, serena e alucinadamente. Sagrada e profana, menina e senhora, torpor e razão.
Sete destinos cruzados na noite, rodopiando misturados, agarrados à conivência de um quarto, agasalhados pela escuridão e iluminados pelas luzes raras que acalantam a madrugada.


Sete gnomos, sete soldados, sete druidas e sete fadas. Sete pastores e sete iminentes pensadores. Sete elementos percorrendo a estrada. Mapeando as sensações da vida. Construindo templos em terras arrasadas.

16.5.13

João Urca Beach: O artista e a banda




O que é a Urca Beach? 

A banda Urca Beach é na verdade uma ficção, fruto de um sonho meu de criança. Desde os doze anos eu componho e desde então sinto que as canções nascem com arranjos, quase sempre. Tocá-las só ao violão me frustra. Por isso insisto em fazer-me acompanhar de bons músicos. 
O grupo Urca Beach foi uma busca minha, de encontrar uma sonoridade própria. Eu queria um disco que pudesse ser reproduzido ao vivo. E digo que andamos conseguindo isso. Também fizemos releituras magníficas de compositores conhecidos. É pena que não temos nenhum registro, ainda, dessas releituras. Mas a questão é meramente econômica, pois os músicos estão sempre coesos comigo. O problema é que três deles vivem de música e eu não consigo uma agenda de shows que garanta a sobrevivência de todos. Além do quê, você me conhece, sou mau vendedor, infelizmente. 
Meu negócio é tocar meu violão, compor e cantar (Risos). Preciso urgente de alguém que me venda. 


E o CD “Praia e luau” ? 

O CD "URCA BEACH: PRAIA BAR E LUAU", traz registros de oito anos juntos, com variações na formação. Membros fixos foram eu, Dida, Wagner (violão e guitarra) e o Osmar (bateria). Muitos outros músicos, no entanto, participaram. 


E porque você adotou o nome da banda? 

Como eu não tenho garantias de continuidade do trabalho com o pessoal, adotei o nome JOÃO URCA BEACH, para me fundir com a marca, que eu registrei. Assim, posso me apresentar sozinho, ao violão (e tenho começado a gostar disso), ou com um, ou mais membros da banda, que, por isso, acho mais conveniente chamar de "grupo" e não de banda.  



Qual o estilo do Urca Beach? 

Nosso estilo é MPB. Nossas influências, da nossa melhor música feita por negros: Claúdio Zóli, Djavan, Tim Maia, Seu Jorge, Jairzinho. Não é à toa que tocamos muito esses caras. 
Mas também tocamos os clássicos (Chico, Caetano, Gil). E também alguns clássicos do rock, como Eric Clapton, Guns and Roses, Pink Floyd. Na maioria, do nosso jeito. 


E como você vivencia esse processo? 

A convivência com bons músicos me ajudou a crescer no instrumento, o que tem refletido nas composições. 



Você já pensa em CD novo? 

Preciso divulgar este CD para poder pensar na viabilidade de outro. 
Espero que no próximo volte a ter parcerias nossas. Temos coisas engavetadas que precisam sair.


8.5.13

Fazendo um som com os amigo, em casa: Stanley Neto em Caxias


Stanley Neto é um artista da terra. Músico de vários talentos - Sax, flauta, gaita, violão, guitarra, entre outros instrumentos - Stanley é também poeta e compositor. 
Membro atuante do Projeto Conspiração, que fez história e marcou profundamente a criação literária e artística de Duque de Caxias, Stanley Neto atualmente corre o mundo levando sua canção e seu talento a todos os lugares possíveis.


Na próxima terça feira, dia 14/05, estará se apresentando na Praça de alimentação do PREZUNIC Caxias à partir das 18 horas. 
Quem gosta de boa música não pode perder a oportunidade. É arte rara, daquelas boas de se ouvir. 





Qual a sua perspectiva para essa apresentação em Caxias?

Stanley Neto - Sempre fico muito feliz e ansioso quando vou me apresentar em D. Caxias que é minha terra natal. Fico na expectativa de reencontrar velhos amigos que sempre me deram muita força e muito carinho e muitas e boas energias durante a minha carreira, principalmente em seu início. 

Por onde você anda tocando e com quem?

Stanley Neto - Ando (nos últimos 6 anos) excursionando como músico contratado (sax-barítono , flautista e gaitista) da Banda Roupa Nova. Eventualmente participo de shows de outros artistas, quando a agenda da banda permite, como Alex Cohen por exemplo, e sempre que posso, dou um pulo em D.Caxias para matar as saudades e fazer um (ótimo) som com o amigo e mentor musical Beto Gaspari.

Além disso, trabalho como músico de gravação (estúdio e/ou shows) de alguns artistas do País. Semana passada, por exemplo, tive a honra de gravar (pela terceira vez) em um cd do Cantor Agnaldo Timóteo, no penúltimo dvd do Grupo Bom Gosto(deixa eu cantar meu samba), e por aí vai...


É bom rodar o mundo fazendo arte? 

Stanley Neto - É ótimo rodar o mundo não somente fazendo arte, mas trabalhando com o que se gosta. É bacana, conhecer outras culturas e aprender com artistas das mais variadas vertentes artístico-culturais. 


Como foi o seu começo no mundo das artes? 

Stanley Neto - Bem, eu comecei participando de um grupo de poesia de D.Caxias chamado Projeto Conspiração, inicialmente idealizado pelo cara que considero o meu "Padrinho Musical", o Beto Gaspari. O contato com essa galera abriu não só a minha mente musical, como artística transformando para sempre toda a minha concepção no que diz respeito à expressão artística.

Essa raiz cultural adquirida graças a contatos criativos e expressivos com artistas como João de Deus, João Luiz, Cantídio José, Lello Alves, Chiquinho Maciel, Edinho do Samba, Edu Costa, Ricardo Barbieri, Beto Cavaco, Araken Álvaro, Vicente Portella, Marcelinho Ferreira, Beatriz Oliveira, entre muitos outros que a minha memória me impede agora de lembrar, foi de extrema importância para a minha formação não somente artística como humana, me proporcionando uma visão absolutamente ímpar de cultura, arte e por que não dizer, de vida.


Praça de alimentação do PREZUNIC Caxias. Terça, 14/05 às 18Hs

5.5.13

A arte itinerante de Paullo Ramos

Paullo Ramos é um artista inquieto, plural e generoso. Inquieto porque vive em constante movimento com sua arte desde sempre. Plural, porque aborda todos os sentidos do mundo e da vida. Generoso porque divide com a gente e com seus alunos o saber e o sentir artísticos acumulados em uma vida plena de fazeres e criações.
Atualmente Paullo Ramos está desenvolvendo o projeto "Arte itinerante", que leva as praças e locais públicos da cidade sua capacidade criativa.
Em poucas perguntas tentamos aqui decifrar e dividir com nossos leitores o pensamento e a ideia de criação de Paullo Ramos.


Como é esse projeto de arte itinerante?

- Um grande artista falou certa vez que “A arte tem que ir onde o povo está”, e a filosofia do atelier Arte e Fato é consolidar o projeto “Escola de Arte sem Paredes” que inicia a criança, o adolescente e o adulto no maravilhoso mundo das artes plásticas de uma forma muito livre. Então a maior propaganda é convidar o povo para conhecer o nosso atelier mostrando como e o que é feito ao vivo e em cores e em 5D 

Qual a intenção? 

- Mostrar a importância da arte como elemento interativo entre razão e emoção em nossa sociedade altamente agredida com a insensibilidade e a desumanização, de uma forma dinâmica e agradável.



Seus alunos participam do projeto? 

- O projeto trabalha o pensar coletivo e humanístico e isto torna o aluno um colaborador ativo. Mostramos também que ele é o protagonista quando fazemos exposições de suas obras ou quando ele vende. O aluno é também o nosso maior patrocinador. 


Há quanto tempo você faz arte na cidade? 

- A minha primeira participação em uma exposição “a vera” foi em 1969 no II Salão Duquecaxiense de Pintura, então são 44 anos de arte caxiense. Mas consegui fincar a bandeirinha de nossa Caxias em alguns pontos estratégicos, um do “outro lado do mundo”, em Tókio e outro no “fim do mundo”, em Ushuaia. Citei apenas os dois por serem extremos.



Como é fazer arte em uma terra embrutecida pela lógica do Deus grana?

- Por ser budista a minha base é politeísta e isto ajuda a capitalizar diversos valores, que são, humanos, afetivos, espirituais, mentais e outros que fertilizam culturalmente a minha Flor de Lótus. Mas não é fácil.



Resume um pouco a sua trajetória artística pra gente? 

- Nasci em 1950 na Rua das Laranjeira e com 8 anos mudamos para Duque de Caxias, sempre desenhando pelos cantos e ficando de castigo por ser “canhoto”, com 13 anos pintei o meu primeiro quadro à óleo (50 anos de vivências e convivências extraindo do branco as infinitas possibilidades pictóricas na tentativa de ver um mundo melhor), hoje posso afirmar sem nenhuma dúvida: Amo o que faço e sou apaixonado pela arte! Isto não foi um resumo e sim um convite para você, leitor, nos ajudar a difundir um pequeno espaço de arte em Duque de Caxias, pequeno fisicamente, mas grande em sonhos e realizações: 

Atelier Arte e Fato – Rua General Câmara 18 bairro 25 de Agosto – Duque de Caxias – (21) 2671-1758

29.4.13

Rede Sustentabilidade: Três perguntas para Samuel Maia

Samuel Maia é professor da rede estadual de educação e militante político desde os anos 80. Já foi dirigente do arquivo nacional e secretário de Meio ambiente de Duque de Caxias. Incumbido por marina Silva, tem a tarefa de organizar seu partido, o Rede sustentabilidade, em nossa Cidade e nos concedeu esta pequena, porém esclarecedora, entrevista.

Qual a sua avaliação sobre a reunião do Plano nacional de Cultura ocorrida no Teatro Raul Cortez?

SAMUEL MAIA - Foi mal convocada e esvaziada, creio que a SMC de Duque de Caxias, deveria ter chamado os militantes da área antes, fazer um debate e hoje apresentar as propostas aprovadas. Creio na democracia direta, não na obrigação burocrática, para cumprir tabela.

Cadê as lonas culturais que você anunciou quando era Secretário?

SAMUEL MAIA - As Empresas responsáveis pela instalação das mesmas estão a quatro meses sendo empurradas com a barriga pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que quer receber as mesmas desmontadas, porém o contrato foi amarrado com elas instaladas, para não haver desvio das mesmas. Infelizmente das duas instaladas, a do primeiro distrito (Apoteose) Tiraram a Lona e só deixaram a estrutura. A do segundo distrito em São Bento (Museu Vivo) está lá funcionando e as duas do terceiro e quarto distrito estão esperando a vontade política do atual governo para serem instaladas. Estão pagas é só instalar.

Qual o compromisso do Rede Sustentabilidade com a Cultura?
SAMUEL MAIA - O Compromisso com a Cultura, por parte da #REDE Sustentabilidade é total, além do mais, temos uma massa crítica conosco, militam conosco milhares de pessoas que atuam na área cultural e temos figuras públicas como Gilberto Gil, Wagner Moura, Marcos Palmeira, Adriana Calcanhoto e outros que nos apoiam.